Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004
Sonho imagino o mundo
à minha volta fantástico,
pareces tão real como foste sempre...
Mas,num vapor, o teu hálito
na minha face esvaiu-se e, depois da
tardinha,o serão avança na noite.
Aqui quieto ainda espero, impaciente,
embora a memória me chegue eventualmente.
Aqui estou eu,para sempre interrompido
neste montado mistério aceso rubro
e,então, vem aquele momento em
que o fogo se ateia -
senti-o chamar aqui esta noite,
aqui onde a luz é intermitente...
Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004
Foi há tantos segundos e agora
é difícil recordar exactamente
o que para mim significaste...
Aqui quieto ainda espero,sou paciente,
porque a memória chega-me eventualmente.
Aqui estás tu e, embora
te possas em breve ir embora,
de algum modo a canção ainda
arde como brilhava:
senti isso acontecer aqui esta noite -
aqui onde ainda foi...luz
Terça-feira, 28 de Setembro de 2004
A memória é extensão
resfria a labareda, agarra o quadro
mas confunde a linha verdadeira...
Um outro tempo invade o sentido
um momento ganho e perdido, alta visão.
De repente sinto-te ao pé de mim
longe como se estivesses
a universos de distância
tão perto como isto;
muitos beijos lentamente
nos meus roubados lábios e
o momento escoa-se no meio do voo...
Sábado, 25 de Setembro de 2004
«Diante de Deus! - Mas esse Deus morreu! Homens superiores,
esse Deus era o vosso mais grave perigo.»
Friedrich Nietzche, "Assim falava Zaratustra",2
Sexta-feira, 24 de Setembro de 2004
E TRADIÇÃO É TRAIÇÃO
Cultura é tudo aquilo que contribui para tornar a humanidade mais sensível, mais inteligente e civilizada. A violência, o sangue, a crueldade, tudo o que humilha e desrespeita a vida jamais poderá ser considerado "arte" ou "cultura". A violência é a negação da inteligência.
Uma sociedade justa não pode admitir actos eticamente reprováveis (mesmo que se sustem na tradição), cujas vítimas directas são milhares de animais.
É degradante ver que nas praças de touros torturam-se bois e cavalos para proporcionar aberrantes prazeres a um animal que se diz racional.
Portugal não se pode permitir continuar a prática do crime económico que é desperdiçar milhares de hectares de terra para manter as manadas de gado, dito bravo. A verdade é que são precisos dois hectares de terreno, o equivalente a dois campos de futebol, para criar em estado bravio cada boi destinado às touradas. Ora isto é tanto mais criminoso quando Portugal é obrigado a importar metade da alimentação que consome. Decerto os milhares de hectares desperdiçados a tentar manter bois em estado bravio, produziriam muito mais útil riqueza se aproveitados em produção agrícola, frutícola, etc.
Uma minoria quer manter as touradas e as praças de touros, bárbara e sangrenta reminiscência das arenas da decadência do Império Romano. De facto nas arenas de hoje o crime é o mesmo: tortura, sangue, sofrimento e morte de seres vivos para divertimento das gentes das bancadas. Como pode continuar tamanha barbaridade como esta, das touradas, no século XXI?
Só pode permanecer como tradição o que engrandece a humanidade e não os costumes aberrantes que a degradam e a embrutecem.
Não seja responsável pela tortura.
Não assista a touradas.
LIGA PORTUGUESA DOS DIREITOS DO ANIMAL
Quinta-feira, 23 de Setembro de 2004
O tempo cresceu entre nós
à medida que os meses foram passando,
senti-te ao cair das pérolas palavras
até que nada ficou.
Um muro virtual nos separa
enquanto as recordações se foram desvanecendo,
sobre os caminhos deixei de sorrir
porque já nada sabia como dantes
como se mais nada houvesse para dizer.
É assim que as coisas parecem estar
há uma semana longe no tempo e no espaço,
tanto tempo e distância entre nós
agora este voo para que fique patente:
Nunca nada quebra,sabes como é:
o tempo e a distância tornam
o nosso tempo seguro...será?
Ou a (in)segurança já faz parte,
da nossa vida, dos tempos imemoráveis...
mão na mão.
Quarta-feira, 22 de Setembro de 2004
ÓLEO SOBRE TELA DE LUCIAN FREUD
Neto do fundador da psicanálise Sigmund Freud,Lucian deve ser o "Maior pintor realista vivo".Muitas vezes comparado a Francis Bacon,Lucian Freud não se livra de muitas vezes
ser apelidado de "Pintor maldito".
Serão as telas de Lucian Freud nús cruéis e horríveis ou, como alguns dizem, uma potência
de amor e adoração pelos seus modelos? Este é o cerne ou a chave da sua obra de arte.
Glorificado por todo o mundo como «o maior pintor realista do mundo», a restropectiva da sua obra que esteve há tempos no Tate Britain,em Londres,descobre-nos um pouco mais
sobre o enigmático e o paradoxal do artista.
Terça-feira, 21 de Setembro de 2004
No frio,a flor do lábio
que aconchega a boca
aço carnal
queridas curvas
cantos de vozes
e facas de saliva
ninguém desnua a tua pele
agora que o barco se afunda
e só tu podes salvar-me
e dúvidas das minhas dúvidas
dos meus ritos
das minhas ruínas
entre sempre e jamais
nada desnua a tua pele
a espuma de vénus
a fruta mais escassa
que quis beber,sorver e
o zahori buscando água
a ficção é e será
a minha única realidade
artista do pecado
aprendi de memória
a geografia do teu centro
de açucar
e de fel
espuma de vénus
nada desnua a tua pele
perfume imaterial
cobiça e princípio
como resposta aos teus prodígios
com disfarce sem estranhar
dou o salto do fugaz
a ficção é e será
a única realidade.
Segunda-feira, 20 de Setembro de 2004
O ópio é a flor da pureza
até que chega a ser só
existência
a nata do leite muge lento
estendendo-de ao sabor
do universo
o que nada faz nada teme
e de terreno saberás o
celeste
um escuro direito à delícia
será um sonho ou será mentira
As coisas mais triviais ficam
fundamentais
eliminando os moldes do azar
como se agita o vento sem
alimento
escuta meu canto aberto de
par em par
Correndo na planície
como um animal acossado
debaixo de efeito da dormideira
e o peso das minhas pestanas
balões de ar
arcano indescifrável
num jardim das minhas
delícias
pertenço à brisa
inalo a neve
qua flutua no ganges
e o azeite de incenso
nos servirá de consolo.
Sexta-feira, 17 de Setembro de 2004
«Não há ser mais suave que o homem no seu estado primitivo,
quando, situado pela natureza a distância igual da estupidez dos
brutos e das luzes funestas do homem civilizado,[...] lhe é impe-
dido, pela piedade natural, de fazer ele próprio mal a alguém...
mesmo no caso de o ter sofrido.»
JEAN-JACQUES ROUSSEAU, Discurso sobre a origem
e os fundamentos da Desigualdade entre os
homens,II