Terça-feira, 30 de Novembro de 2004

"DERROTADOS?" MEMORIAM

memoriam.gif


Escreveu José Manuel Fernandes, director do Público,acerca de dois artigos
do ensaísta português Eduardo Lourenço nos quais analisa o mal-estar entre
a Europa e os Estados Unidos,o seguinte: "A EUROPA SÓ PODE SENTIR-SE
DERROTADA FACE AOS ESTADOS UNIDOS SE RECUSAR ASSUMIR QUE,
AINDA ANTES DO ILUMINISMO FRANÇÊS, HOUVE UM ILUMINISMO BRITÂNICO"

LER ARTIGO: http://jornal.publico.pt/2004/11/28/EspaçoPublico/OEDIT.html


ORA COMO AGORA É POLITICAMENTE CORRECTO TER DIREITO AO
CONTRADITÓRIO AI VAI...



Exmo.Senhor Director
Os meus melhores cumprimentos


Como leitor assíduo deste jornal, permita-me que ressalve alguns aspectos pertinentes acerca do seu artigo "Derrotados?",publicado no dia 28 do corrente mês, neste mesmo jornal. Considerando a particular e singular crítica que reflecte sobre dois artigos publicados pelo ensaísta português Eduardo Lourenço, um no Público e o outro na revista Visão, sobre a relação de mal-estar entre a Europa e os Estados Unidos, ambos trespassados por uma mundievidência pessimista e catastrofista apoiando-se numa obra da historiadora G. Himmelfarb, em que enfatiza a superioridade ético-moral do registo ilustrado britânico dos países ocidentais de sucesso económico,por outras palavras, "capitalistas", que seguiram esta via em vez do Iluminismo françês, quero por isso chamar a atenção,a saber, para o seguinte:
1 - É gritante a má heurística que essa senhora faz, uma vez que, e à luz destas duas manifestações culturais e muito particulares, que se caracterizam por uma comum atmosfera espiritual, ipso facto, terão que ser entendidas desde o mesmo ponto de vista, porque possuem os mesmos pressupostos.
2 - Que os principais impulsionadores do iluminismo britânico, Thomas Hobbes e John Locke viveram em França e aqui beberam de toda a "sagesse" cartesiana e do mecanicismo determinista de La Mettrie,daí a evolução para uma dicotomia entre o racionalismo e o empirismo. Por diversas vezes T. Hobbes teve que se evadir do seu próprio país e ínclusive teve a sua principal obra no index e só publicada após a sua morte.Com J. Locke deu-se quase semelhante coisa, o seu porto de abrigo foi a Holanda devido às guerras religiosas.A intolerância religiosa era fortemente marcada e ainda hoje se mata em nome de Deus, vide o caso da Irlanda.
3 - Fala numa terceira via ilustrada, fico sem perceber a qual se refere, ao "Aufklarung" alemão ou ao italiano?
4 - Se o esquecimento do iluminismo alemão foi deliberado então é grave,uma vez que este é que foi a mola da explosão para os totalitarismos que depois surgiram a partir do século XIX com o marxismo e deram naquilo que nós todos sabemos.Foi o idealismo alemão fundamentalmente da ala esquerda de Hegel que surgiram Feurbach e Karl Marx.
5 - Que afinal não foram os jacobinos e a turba multa saída da Revolução Francesa, os males das dores do mundo actual.
Para concluir apraz-me registar o grande apreço que ambos têm pelo ideal ilustrado britânico o tal que é o bom, o do livre pensamento do absolutismo( ainda hoje é uma monarquia) aquele que Hobbes caracterizou no Leviatã, a força da razão coercitiva sobre o instinto natural do homem.Muito havia para dizer sobre a matéria, mas o tempo e o espaço é curto, no entanto uma palavra final para a historiadora,que faz a distinção entre a boa virtude britânica e má virtude francesa,esta a origem de todos os males do mundo.A boa virtude é aquela que tem a preocupação ética e que fala de um sentido moral, de um gosto moral, ou aquilo que Adam Smith retoma como o tema humano da simpatia e é aqui que chegámos, à Economia, tema implicitamente inculcado no pensamento da senhora historiadora e está tudo dito. A saber que Adam Smith foi um Economista muito conhecido no século XVIII, no período áureo do despotismo iluminista.

VER CONCLUSÃO NA CAIXA DE COMENTÁRIOS,ESTÁ LÁ TUDO O QUE
ERA TÁCITO ESTAR NESTE ESPAÇO.

No entanto queria acrescentar mais algumas considerações relativas a esta
matéria,a saber : Que o racionalismo e o empirismo, oposições dicotómicas
que originaram grandes e importantes discussões ao longo do tempo, se deixam
inculcar por igual no movimento espiritual a que denominaram "Iluminismo"
ou ilustração. Não que este seja um simples fenómeno filosófico, mas também
uma manifestação geral do espírito e da cultura que penetrou em todos os campos
da vida espiritual e cultural, social, política e económica. O Iluminismo significa
uma corrente básica na mundievidência do mundo e na concepção da vida daquela
época e especialmente do séc. XVIII. Agora escrever num editorial de um jornal,
que "A Europa só pode sentir-se derrotada face aos Estados Unidos se recusar
assumir que, ainda antes do Iluminismo francês, houve um Iluminismo britânico",
é uma intencionalidade disparatada ou então tem um cunho ideológico ético-político.
Até porque as raízes históricas do Iluminismo já remontam muito atrás,mais justamente
aos fundamentos e re-fundamentos dos séculos precedentes expressados no humanismo
e no Renascimento. Já neste contexto se havia encontrado e descoberto o mundo do
homem.Desde o momento que o homem passou a ser o centro do mundo e não Deus
como na Idade Média,passou a existir uma liberdade das forças naturais-humanas e
um retorno ao mundo,que desde a Grécia clássica estava arredado. Por isso pode muito
bem o sr. José Manuel Fernandes ficar com o seu Iluminismo britânico que eu fico com
o meu livre pensamento.Pode muito bem ficar com a boa virtude,com a humana simpatia
economicista de Adam Smith que levou à ética utilitarista americana de Stuart Mill e Bentham, que eu fico na minha cena. A tal cena como diria Derrida, "Cosmopolitas de
Todos os Países mais um esforço! Tem razão Eduardo Lourenço, a América de hoje é um
"Frankestein",feita dos pedaços da nossa "Velha Europa", a de Luhmann,não a de Bush e
Rumsfeld.A da Dupla Contigência como sistema Social.


NOS VERTUS NE SONT LE PLUS SOUVENT QUE DES VICES DÉGUISÉS.
La Rochefoucauld (Séc.XVII)




publicado por jmdslb às 03:24
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Domingo, 28 de Novembro de 2004

ELEMENTOS DA LEI NATURAL - DO DESEJO IV - CONCLUSÃO

1Romantico.jpg

Just because...

Vivam!
Abracem as nuvens
Mimem o sol
Dancem com a chuva
Respirem o vento...
Vivam!
Beijem-se com paixão
Amem-se com desejo...
Simplesmente
Vivam!


O desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem."

Jean paul Sartre










publicado por jmdslb às 05:31
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Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004

ELEMENTOS DA LEI NATURAL - DO DESEJO III

Ó FLOR DAS DONZELAS,
A QUEM EU DESEJO,
ROSA ENTRE AS MAIS BELAS,
A QUEM SEMPRE VEJO.

CARMINA BURANA
(Séc. XII e XIII)




richardh.jpg

INTERDITO

ANIMAIS I
ANIMAIS II






LA PLUS GRANDE SAGESSE DE L'HOMME CONSISTE À CONNAÎTRE SES FOLIES

MADAME DE SABLÉ


ON PEUT DIRE DE TOUTES NOS VERTUS CE QU'UN POÈTE ITALIEN A DIT
DE L'HONNÊTETÉ DES FEMMES, QUE CE N' EST SOUVENT AUTRE CHOSE
QU´UN ART DE PARAÎTRE HONNÊTE.

LA ROCHEFOUCAULD

Indubitavelmente que as paixões humanas e o amor-próprio

não passam de meios que a natureza utiliza para atingir os

seus fins. No entanto é errado supor ou mesmo até pensar

que a paixão, quando é feliz e pura, leva-nos a um estado

de esquecimento. Como enfatizou no séc. XVIII, Diderot

"A paixão até destrói mais preconceitos do que a filosofia",

mas essas próprias paixões são também extrínsecas ao

homem pois ensinaram a razão aos homens.

Clama-se incessantemente contra as paixões e os desejos,

imputam-se-lhes todos os males do homem, mas será que

o desejo e a paixão são a verdadeira essência do homem?

















publicado por jmdslb às 23:45
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Quinta-feira, 25 de Novembro de 2004

CONTRA - RE - EVOLUÇÃO

25ab.jpg


QUASE AO FIM DE 30 ANOS HÁ UMA TRANSMUTAÇÃO
DE VALORES. VEJAM QUEM NOS GOVERNA!...
CALCULEM OU MEDITEM... COMO DIRIA NIETZCHE O
MUNDO OCIDENTAL,I.E.,A CULTURA OCIDENTAL ESTÁ
DE CABEÇA PARA BAIXO,PARA ALÉM DO BEM OU DO MAL...
É SIMPLESMENTE UMA QUESTÃO DE GAIA-CIÊNCIA.




publicado por jmdslb às 04:06
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Quarta-feira, 24 de Novembro de 2004

ELEMENTOS DA LEI NATURAL - DO DESEJO II

hj7[1]-thumb.jpg



Os violinos uniam às flautas o
riso
E o baile rodopiava quando a vi
passar
Com o seu loiro cabelo a brincar
na espiral
Das orelhas pra onde o meu desejo ia
Como um beijo a dizer-lhe algo,
mas sem ousar.



Máximas Morais
(séc.XVII-XVIII)


O QUE AS MULHERES
DESEJAM UNICAMENTE
É SER PREFERIDAS

JULIE DE LESPINASSE



O AMOR SEM DESEJO
É UMA ILUSÃO,
NÃO EXISTE NA NATUREZA.


NINON DE LENCLOS







publicado por jmdslb às 03:05
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Segunda-feira, 22 de Novembro de 2004

UMA VISÃO DAS PAIXÕES REPRESENTADAS NUMA CORRIDA



g24794pa3g8Guns non Roses.jpg


s_heroes.gif






Se compararmos a vida do homem com uma corrida - na qual
embora ele não possa ocupar todas as posições, pode porém
manter-se nela à caça dos seus propósitos -, poderemos tanto
constatar quanto recordar quase todas as paixões mencionadas
anteriormente. Mas devemos entender que essa corrida não tem
nenhum outro objectivo ou outro prémio além de nos mantermos
em primeiro lugar, e que nela :

Esforçar-se é [apetite].

Ser preguiçoso é [sensualidade].

Respeitar os que estão à nossa volta é [glória].

Respeitar os que estão diante de nós é [humildade].

Perder o juízo ao relembrar algo, [vã glória].

Ser barrado, [ódio].

Voltar atrás, arrependimento.

Estar com fôlego, esperança.

Tombar por exaustão, desespero.

Esforçar-se por se igualar ao próximo, emulação.

Por suplantá-lo ou ultrapassá-lo, [invenja].

Resolver enfrentar um obstáculo previsto, [coragem].

Enfrentar um obstáculo imprevisto, [ira].

Enfrentá-lo com facilidade, [magnanimidade].

Perder o juízo por causa de pequenas dificuldades,[pusilanidade].

Cair diante do inesperado,uma disposição para chorar

Ver o outro cair,uma disposição para [rir].

Assistir ser ultrapassado de quem não passaríamos é piedade

Assistir a alguém ultrapassar de quem não passaríamos é indignação.

Ser sustentado por alguém é [amar].

Levar a alguém o que o sustente é caridade.

Magoar-se com a própria precipitação é [vergonha].

Ser ultrapassado continuamente é miséria.

Ultrapassar continuamente o nosso próximo é [felicidade].

E abandonar o percurso é morrer.


THOMAS HOBBES (Séc XVII)









publicado por jmdslb às 23:59
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Domingo, 21 de Novembro de 2004

ELEMENTOS DA LEI NATURAL - DO DESEJO I

sirenadelmar.jpg

PROIBIR-NOS ALGO

É DESPERTAR-NOS O DESEJO

MONTAIGNE



TODOS OS DESEJOS DO ANIMAL SÃO,

EM ÚLTIMA ANÁLISE

FUNÇÃO DO DESEJO QUE ELE TEM

DE CONSERVAR A VIDA.

O DESEJO HUMANO DEVE POIS

SOBREPOR-SE AO DESEJO DE CONSERVAÇÃO.

ALEXANDRE KOJÈVE
(Introdução à leitura de Hegel, 1902-1968)


publicado por jmdslb às 23:54
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Sábado, 20 de Novembro de 2004

MORALISTES DU XVII SIÉCLE - MÁXIMAS

plenitude1.jpg
A AUSÊNCIA DIMINUI AS
PEQUENAS PAIXÕES E
AUMENTA AS GRANDES,
COMO O VENTO APAGA AS VELAS
E AVIVA AS FOGUEIRAS.

POR MAIS QUE CUIDEMOS DE
ENCOBRIR NOSSAS PAIXÕES SOB
APARÊNCIAS DE PIEDADE E DE HONRA
ELAS SEMPRE TRANSPARECEM
ATRAVÉS DESSES VÉUS


LA ROCHEFOUCAULD


publicado por jmdslb às 23:55
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Sexta-feira, 19 de Novembro de 2004

SIMBOLOGIA RICOUERIANA IV - O MITO

1488.jpg


A EPOPEIA DO GILGAMESH
A RENÚNCIA DO DESEJO QUE
GERA O SOFRIMENTO



Era uma vez um rei da cidade de Uruk na Mesopotâmia (por ironia do destino, hoje o Iraque), que atormenta com a sua prepotência, desejos e arrogância os habitantes daquela cidade. Os deuses, ouvindo o apelo do povo, criaram um rival, um jovem de nome Enkidu para que o desafiasse. Lutaram furiosamente entre si, mas para grande surpresa de todos, tornaram-se amigos inseparáveis.
Gilgamesh que sonhava com feitos históricos desafiou o seu amigo, Enkidu, a irem a ambos combater um ogre, um «grande mal» que assolava as florestas. Venceram-no, tendo a deusa do amor, Ishtar, ficado apaixonada pela beleza e força de Gilgamesh. Este, no entanto, rejeita-a, lembrando-lhe os destinos miseráveis dos seus antigos amantes. A deusa furiosa amaldiçoa Enkidu, condenando o maior amigo de Gilgamesh à morte. Destroçado, Gilgamesh faz uma grande e penosa viagem procurando o único homem abençoado pelos deuses, de nome Utnapishtim, que não só foi poupado ao Dilúvio como passou a viver eternamente no paraíso, no «jardim do Sol», nas terras de Dilmun. Quando Utnapishtim avistou Gilgamesh, totalmente prostado com tal viagem, inquiriu-o sobre as suas motivações. Mas Gilgamesh perguntou-lhe:”Como posso descansar? - [o meu amigo] tornou-se pó e também eu morrerei e me deitarei na terra para sempre. [..] Oh pai Utnapishtim, tu que entraste na assembleia dos deuses, desejo interrogar-te acerca dos vivos e dos mortos! Como encontrarei a vida que procuro?». Utnapishtim narrou-lhe em primeiro lugar a história do seu destino. Um dia os deuses decidiram destruir com um dilúvio terrível a humanidade pois ela tinha-se tornado extremamente ruidosa. Mas o deus já nosso conhecido, Ea, o deus das águas doces dos lagos e dos rios, o deus que tinha feito os homens a partir de argila, decidiu poupar um deles, Utnapishtim, avisando-o nos seus sonhos. “Constrói um barco, abandona o que possuis e procura a vida, despreza os bens do mundo e conserva viva a tua alma. [...] Depois leva para dentro do barco a semente de todas as criaturas vivas.” [...]Durante todo o dia grassou a tempestade, aumentando sempre a sua cólera; caía sobre o povo como as vagas da batalha [...].


Até os deuses estavam aterrorizados pela inundação e fugiram para o mais alto céu [...] encolhidos como cães. [..] Durante seis dias e seis noites [...] tempestade e inundação enfureceram-se juntas como hostes guerreiras. Quando o sétimo dia despontou, amainou a tempestade do Sul, o mar tornou-se calmo, a cheia sossegou; olhei para o rosto do mundo e havia silêncio: toda a humanidade se transforma em barro. [...] Então inclinei-me profundamente, sentei-me e chorei; as lágrimas corriam-me pelo rosto, porque por todos os lados havia o deserto de água. [...]
Quando o sétimo dia despontou, soltei uma pomba e deixei-a ir. Ela voou, mas não encontrando lugar onde poisar, voltou. Então soltei uma andorinha , e ela voou, mas não encontrando lugar para onde poisar, voltou. Soltei um corvo, ele viu que as águas se tinham retirado, comeu, voou à volta, grasnou e não voltou.
Então abri tudo aos quatro ventos, fiz um sacrifício e derramei uma libação no alto da montanha”. E os deuses decidiram abençoar Utnapishtim. Depois de narrar a sua história a Gilgamesh, perguntou-lhe:«Quanto a ti, Gilgamesh, quem reunirá os deuses para a tua salvação, para que possas encontrar essa vida que procuras? Mas, se o desejas, vem e submete-te à prova: basta resistires ao sono durante seis dias e sete noites.» Mas Gilgamesh estava muito cansado e pouco tempo resistiu acordado, perdendo, assim, a imortalidade. “Utnapisshtim disse à mulher:«Olha para ele agora, o homem forte que queria ter a vida eterna, mesmo agora, as névoas de sono passam sobre ele.» A mulher de Utnapishtim apiedou-se de Gilgamesh e pediu ao seu marido que lhe revelasse um segredo antes deste partir. E então o homem abençoado pelos deuses confidenciou a Gilgamesh:”Existe uma planta que cresce debaixo de água, que tem espinhos como uma silva, como uma rosa; ela te ferirá as mãos, mas, se conseguires apanhá-la, então terás nas mãos o que devolve ao homem a juventude perdida.” Gilgamesh não hesitou e mergulhou no fundo das águas onde encontrou aquela flor maravilhosa. Decidiu retornar depressa para a sua capital, Uruk, de forma a que todos pudessem sentir a força revigoradora daquela planta mágica. No caminho de volta, decidiu banhar-se num lago. No seu fundo encontrava-se uma serpente e esta “sentiu a suavidade da flor. Soltou para fora da água e apoderou-se dela, e logo mudou de pele e voltou para o poço. Então Gilgamesh sentou-se e chorou, tendo as lágrimas corrido pelo rosto. “Regressou à sua cidade e tornou-se um homem sábio, pois como diz o final do texto “fez uma longa viagem, conheceu o cansaço, esgotou-se em trabalhos e, ao regressar, gravou numa tábua de argila toda a história”. Assim enveredou pelos caminhos da sapiência tornado-se um verdadeiro sábio.




publicado por jmdslb às 18:54
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Quinta-feira, 18 de Novembro de 2004

SIMBOLOGIA RICOEURIANA III

Como já disse anteriormente, é pelo seu outro modo de pensar, um olhar filosófico hermenêutico que o nosso filósofo confronta a dialéctica da Fenomelologia do Espírito hegeliana com o discurso da psicanálise freudiana, articulada com uma filosofia reflexiva, cuja acção dá origem a posições de um “conflito de interpretações”, em que uma «arqueologia do conhecimento», a exemplo de Freud, se opunha a uma «teleologia do sentido» de expressão hegeliana,dentro do reconhecimento e do respeito devidos a cada uma destas dimensões. A passagem “tout court” por Freud foi de uma importância decisiva para o nosso autor, pois obrigou a reconhecer constragimentos especulativos ligados ao que ele chama “conflito das interpretações”. Freud representou para Ricoeur um convite não só para pensar a arqueologia da consciência, mas para enriquecer a hermenêutica ou as filosofias da suspeita, tais como as de Marx e Nietzche. Mas pelo contrário, em contraposição, obrigou-o a aprofundar a filosofia reflexiva de Jean Nabert, a fenomenologia em si e a hermenêutica prática gadameriana, cuja obra “Verdade e Método” se tornou uma das suas grandes referências. Isso leva-o a voltar a freud numa filosofia reflexiva, atenta ao inconsciente freudiano a que o nosso filósofo denomina arqueologia da pulsão e do narcisismo, generalizada no alter-ego e dos ídolos, arqueologia exagerada do conflito entre o “Eros e Thanátos”. Relativamente a Hegel, considera a sua dialéctica teleológica, finalista, é a lei da construção das figuras, que dá sentido filosófico a toda a maturação psicológica. Essa reflexão concreta que mantém juntas a regressão e a progressão, relaciona o que Freud chama “inconsciente”, com o que Hegel chamou “espírito”, o começo e o fim, o primordial com o terminal, o destino com a história. Com Freud e Hegel, Ricoeur descobre a dialéctica dessa arqueologia e da teleologia que hegel apresentou claramente. Essa mesma articulação existente em Freud mas num plano inverso. Freud articula uma dialéctica da arqueologia do inconsciente e Hegel articula a teleologia explícita do espírito.
Assim se percebe Ricoeur na mediação e articulação entre o encontro ou junção do símbolo hegeliano e freudiano, ou o vice-versa.
Interromper, romper, cortar, segar toda a encantação da filosofia da reflexão da consciência de si, tal é a proposta que toda a simbologia do mal faz ao pensar. No ensaio sobre Freud, o nosso filósofo enfatiza,«A verdadeira complementaridade de arqueologia e teleologia reside, então, na sua interminável reciprocidade. Se de facto, a orientação para o sagrado e a vontade de totalização pressupõem o movimento teleológico do desejo e a dimensão prospectiva do símbolo, tal movimento só pode deixar de ser ideológico e fraudolento, se ler os signos de sagrado em permanente conflito com o “exercício imperdoável da hermenêutica redutora”.»




















publicado por jmdslb às 22:22
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