Sexta-feira, 28 de Janeiro de 2005
O singularismo do holocausto está no amâgo do totalitarismo Nazi,
essa experiência do mal remete-nos indubitavelmente para o mal
radical e para a natureza eminentemente temporal como uma categoria
do Ser. Essa problemática do mal absoluto ou por paradoxal que pareça
a banalidade do mal, leva-nos a questionar toda a fabilidade do homem
no que concerne à culpabilidade total da racionalidade humana.
A imagem do inferno
«Que coisas terríveis devem os judeus ter feito
para os alemães os tratarem assim?»
"Polticamente falando, as fábricas da morte constituíam,
sem dúvida, «um crime contra a humanidade», cometido sobre
os judeus;e se os nazis não tivessem sido aniquilados, as
fábricas da morte teriam devorado os corpos de muito mais
pessoas[...], Para além disso, havia o facto de a inocência
e de a culpa terem deixado de ser produtos do comportamento
humano; nenhum crime imaginável justificaria um castigo
semelhante, nem pecado algum poderia ter coincidido com um
inferno onde tanto o santo como o pecador se viam por igual
reduzidos ao estatuto de futuros cadáveres.Depois da entrada
nas fábricas da morte, tudo se tornava acidental e escapava
por completo ao controlo tanto dos que infligiam o sofrimento
como dos que o suportavam[...]
Os factos são os seguintes: seis milhões de judeus, seis
milhões de seres humanos foram arrastados para a morte sem
terem a possibilidade de se defender e, mais ainda, na maior
parte dos casos, sem suspeitarem do que lhes estava a acontecer.
O método utilizado foi o da intensificação do terror.Houve, de
começo, a negligência calculada, as privações e a humilhação
na altura em que os de constituição maia fraca morriam ao mesmo
tempo que aqueles que eram suficientemente fortes e rebeldes
para se darem a si próprios a morte.Veio a seguir a fome, à qual
se acrescentava o trabalho forçado: as pessoas morriam aos
milhares, mas a um ritmo diferente, segundo a resistência de
cada um.Depois, foi a vez das fábricas da morte e todos passaram
a morrer juntos: jovens e velhos, fracos e fortes, doentes ou
saudáveis[...]"
Hannah Arendt,"Compreensão e Política
e outros Ensaios"1930-1954
Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2005
Será que o mundo mudou depois de Auschwitz?
Será que o mundo mudará depois de Bush?
Haverá perdão para os culpados do Holocausto?
E para as guerras bushianas que aí virão?
Como o tão proclamado ataque ao Irão...
Qual a diferença do Maniqueísmo bushiano entre o bem e o mal?
"O tempo foge-nos entre os dedos.Alguma vez
fui dona da minha vida? Só me reconheço na
intransigência, é a ela que me agarro: não ma
roubem[...] Em Hofmannsthal, Electra diz:
«não sou um animal, não posso esquecer». A
ideia de perdão faz-me vomitar. É isso que
penso e é o que tenho a dizer."
"Refus de témoigner,Une jeunesse", 1997
Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2005
I N T R O D U Ç Ã O
O objecto deste programa de trabalho visa essencialmente demonstrar como os pressupostos de uma teoria da natureza humana, inculcada através da sensação, da imaginação e das faculdades do corpo e da mente, se segue para o corolário da practibilidade de uma verdadeira filosofia política onde aí serão resolvidas todas as disposições das regras e leis políticas após o tal estado de natureza que T. Hobbes descreve no cap. XIII da primeira parte do "Leviatã".
Partindo de uma orientação empirista e uma vez que a filosofia cartesiana se espalhou também em Inglaterra, aí todavia, devido ao ambiente natural desse empirismo sob influência de Bacon, a reacção diante do sistema de Descartes foi diversa da que se observou no restante continente. Por certo aquele princípio que a via racionalista colocava como fundamento da própria especulação, isto é, a ideia do espírito como pensamento puro, que advem no seu conhecimento segundo o plano das ideias inatas, é negado pelo empirismo. A este princípio opõ-se o princípio da origem da experiência, a posteriori, do conhecimento. É neste contexto que surge a inevitabilidade da confrontação por parte do empirismo antropológico de Hobbes perante o racionalismo do filósofo françês. Assim o contraditório pró-activo do empirismo hobbesiano atinge o auge com as tão faladas objecções às Meditações sobre a filosofia primeira, crucial no desenvolvimento do nosso trabalho. Esta obra cartesiana escrita em 1641 como foi alvo de algumas objecções, obrigou mais tarde a Descartes juntar e publicar as objecções feitas com as suas respostas. Uma das objecções mais importantes como já tinha referido foi feita por T. Hobbes, que nas suas viagens pela Europa contacta com Mersenne e Galileu, e que se interessou pelas matemáticas, física onde procurava aplicar os seus princípios à filosofia. Como obras principais e núcleo principal do nosso estudo escreveu o Leviatã e Os Elementos da Lei Natural e Política. Por vezes Hobbes pode parecer profundamente racionalista, e isso pode levar-nos a estabelecer uma comparação entre o seu racionalismo e o de Descartes. Nascidos com oito anos de diferença, alcançam ambos na mesma época, um em 1637, o outro em 1642, a glória filosófica. Tiveram em comum a protecção do padre Mersenne e frequentam os mesmos círculos durante mais de uma década. Tanto um como o outro tentaram tomar, na explicação do mundo e do homem, a razão por princípio e a razão por instrumento. Os seus pensamentos tocam-se tão proximamente que poderemos colocar o problema da anterioridade das descobertas de um face às do outro. As suas susceptibilidades encontram-se diluídas. As 3ª objecções feitas
por um célebre filósofo inglês, às meditações cartesianas, são redigidas com dureza e Descartes responde com uma aspereza nunca dissimulada. No prólogo do De Corpore, Hobbes menciona as grandes figuras que fundaram e que fizeram provir a filosofia natural, citando Copérnico, Galileu, Darwin entre outros, mas evita falar em Descartes, manifestamente exprimindo uma rivalidade existente entre ambos. O próprio Descartes escreveu sobre Hobbes :"considero-o mais hábil na moral do que na metafísica, ou física, e por isso não posso aprovar os seus princípios e as suas máximas, que são más e perigosas, pois ele supõe que todos os homens são maus"1. Para Hobbes a razão não tem uma significação ontológica, não é um princípio de existência, nem uma faculdade metafísica. A razão não é mais do que um raciocínio, isto é, do segundo uma certa ordem dada, dependendo de certos princípios. Porque a razão puramente formal não revela nenhum dos princípios da natureza, permite através da análise, isto é por subtração e decomposição de todos os seus elementos, encontrá-los na experiência. Para Hobbes pode-se conhecer racionalmente o mundo, fazendo experiências em conformidade com a razão. Assim o racionalismo hobbesiano apela ao empirismo, apresentando este como o seu complemento sem o qual ele se encontraria desprovido de conteúdo. Como se pode verificar na sua obra "Leviatã" onde ele demonstra o seu racionalismo/empirismo : «Pois não há concepção no espírito do homem que primeiro não tenha sido originada, total e parcialmente nos órgãos dos sentidos2. Como expõe nas suas obras, Descartes procura uma matemática universal. Para ele os primeiros princípios, nomeadamente os princípios da existência apenas podem ser fornecidos pela metafísica, raciocínio natural da ciência. Hobbes por seu lado defende que o estudo de qualquer fragmento da realidade permite descobrir empiricamente os princípios da sua geração e a sucessão de causas e efeitos que constituem essa realidade. Para ele é suficiente proceder à análise a partir do que nos é dado pelos sentidos. Não conhecemos um corpo antes dos efeitos que o manifestam e a experiência é suficiente para nos revelar tudo o que se pode conhecer nele, isto é dizer, os fenómenos, as aparências. Para ele não há raciocínio e por consequência, nem conhecimento acerca do que é sobrenatural.3 Descartes produz uma filosofia do universo onde o homem procura o seu lugar, Hobbes produz uma filosofia do homem, uma verdadeira antropologia. Um é geómetra e físico, o outro é humanista e moralista. Um é teórico, que aceita provisoriamente colocar a acção entre parêntesis, o outro é um homem de acção, um filósofo de acção.
1.POLIN, Raimond. ; Politique et Philosophie chez T. Hobbes, 2ª edição, Paris, librairie philosophieque, J. Vrin, 1977, p. 32.
2. HOBBES, Thomas, Leviatã, Impresa Nacional da Casa da Moeda, 1999, p.23
3. POLIN, Raimond, op. cit. p. XIV.
A continuar - AS OBJECÇÕES DE T. HOBBES A DESCARTES
Terça-feira, 18 de Janeiro de 2005
AS MINHAS DESCULPAS PELA AUSÊNCIA, QUE SE PRENDE PELO
INPONDERÁVEL DA MUDANÇA DE APARTAMENTO E O MAU SERVIÇO
DA ADSL. VOLTO MUITO EM BREVE...UM ABRAÇO A TODOS.
Domingo, 9 de Janeiro de 2005
Bagdad/Iraque,em Setembro/2004
SÍSIFO
Recomeça...
Se puderes
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga, in "Diário XIII"
Sexta-feira, 7 de Janeiro de 2005
Que tempo fará quando voltares?
Que sonho será quando for dia
e à beira de quem fomos regressar?
Há uma força antiga,
desmedida,
que as forças que penso ter
já não conseguem deter.
Uma força que não tem tempo,
que não tem fim,
uma força que, dalém, nos dá além.
Uma excedente saudade,
que me passa, trespassa
e sobrepassa.
Não é tropismo,
reflexo condicionado,
automatismo.
É uma força bem mais forte,
bem mais funda.
Tem a autenticidade
das nascentes de água cristalina,
a calma serena dos poentes,
o saudoso tamanho
das mais pátrias raízes
e a maternal sombra
das árvores centenárias.
É uma força serena e perfumada,
tão antiga e tão suave
quanto o húmido musgo
das pedras do velho muro
que bordeja meu jardim.
E nesse íntimo segredo,
que me sustenta e fere,
há um dinâmico imobilismo,
a pétrea semente
de um tempo antiquíssimo,
o virtuoso, imanente,
a natureza das coisas,
que procuro.
A pensada raiz da emoção,
que, em carne viva,
pelo sonho, me sustenta.
Humano, demasiado humano,
tão simples como o fluir do tempo,
o seguir a brisa que me leva
à própria raiz do vento,
a força de dizer sol,
de dizer mar,
de dizer pinhal.
onde volta a ter sentido
o sítio para onde vou.
Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2005
Direcção do Gil Vicente Demite-se e Critica Estado
Mais uma machadada na cultura dada pela incultura deste governo,de facto
já não à pachorra para aturar tanta santanada, felizmente está acabar
o tempo da gente pior nesta trágica-comédia que é o teatro da consciência
deste governo. Uma palavra de solidariedade para o Doutor João Maria André
cujo trabalho à frente da direcção deste teatro foi indubitavelmente admirável,
não seria ele próprio encenador!...admirável a ponte que efectuou entre a
Universidade e a cidade através do TAGV.
"Um grito de alerta face à proposta de privatização do teatro" e "um protesto contra a miopia de um ministério que teima em promover uma política de desresponsabilização do Estado do seu dever de garantir, através de serviços públicos, o direito dos cidadãos à cultura e à arte". Segundo o director do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), João Maria André, é assim que deve ser entendida a decisão de se demitir, que ontem comunicou à Reitoria da Universidade de Coimbra (UC), proprietária desta sala de espectáculos.
Encenador e professor universitário, João Maria André justifica ainda a demissão com duas situações, cuja responsabilidade imputa ao Ministério da Cultura (MC) e à Câmara Municipal de Coimbra (CMC), e que considera comprometer o regular funcionamento do TAGV em 2005.
No caso do MC, João Maria André não se conforma com o novo regime dos apoios concedidos pelo Instituto das Artes (IA), que - com as alterações introduzidas pelos dois últimos governos - passou a contemplar exclusivamente as pessoas singulares e colectivas privadas.
O TAGV é um estabelecimento dependente da reitoria da Universidade de Coimbra, uma entidade pública, e deixou, assim, de poder beneficiar do apoio anual de 60 mil euros à programação que lhe vinha sendo atribuído pelo Ministério da Cultura nos últimos anos.
João Maria André diz não ter recebido qualquer resposta dos gabinetes do ex e da actual ministra da Cultura, Pedro Roseta e Maria João Bustorff, às chamadas de atenção para o problema criado pelo novo regulamento. Da parte do IA, o director demissionário diz ter recebido indicações de que deveria pugnar pela alteração do estatuto do TAGV e pela privatização da gestão e programação do teatro, entregando a direcção a uma empresa (sociedade ou associação) privada. "Manifestei desde logo a minha total discordância com essa solução", diz João Maria André, por entender que a Universidade de Coimbra, "com uma licenciatura em Estudos Artísticos" e uma "tradição incontestável na dinâmica cultural e artística de Coimbra, não devia alienar esse património"; o teatro, conclui, é um verdadeiro "interface" da universidade com a cidade.
De resto, João Maria André considera "incoerente" obrigar os teatros a participar na "farsa" de se apresentarem "encapotados como sociedades privadas". Observa que foi o que fizeram o Teatro Aveirense ou o Teatro Viriato, de Viseu (que perdeu o estatuto de Centro Regional de Artes do Espectáculo): "É preciso ver qual é o capital social das autarquias nessas sociedades. Esses teatros serão mais independentes em relação à autarquia do que o TAGV, cujo director goza estatutariamente de independência face ao reitor que o nomeou?", comenta a propósito da mudança.
Domingo, 2 de Janeiro de 2005
A minha mãe / mágica/
sabe fazer ovos/sai-lhe das mãos./
Os meus ovários/saem-lhe da mão,pretos como figos/
e mirrados como dedos na barrela.
SHARON OLDS
Sábado, 1 de Janeiro de 2005
ESPERANÇA
PAZ
AMOR
O MUNDO DEVERIA SER CHEIO DE AMOR, ALEGRIA, PAZ, FRATERNIDADE E
ESPERANÇA... MAS NÃO É.
ESPERO QUE 2005 TORNE O VOSSO MUNDO MAIS PERFEITO,TUDO DE BOM.
ESPERO QUE ACABE A GUERRA
ESPERO QUE TERMINE A FALSIDADE ASSIM COMO A GLÓRIA OU A VÃ GLÓRIA.
ESPERO QUE FINALIZE A HIPOCRÍSIA E O ORGULHO.
ESPERO SOBRETUDE QUE HAJA AMOR,AMOR,AMOR,AMOR,AMOR,AMOR,AMOR,AMOR...