Como nasce a crítica de que a sociedade de consumo conduziu tão rapidamente a partir dos anos 60 ao triunfo do consumismo ? É que as palavras de ordem então lançadas: «tudo,já»,«morte ao aborrecimento», «viver sem tempos mortos e fruir sem entraves», aplicam-se mais ao domínio do amor e da vida que ao comércio. Acreditava-se subverter a ordem estabelecida, favorecia-se de completa boa-fé a propagação do mercantilismo universal. É na ordem da fome e da sede que tudo se transforma imediatamente acessível quando o coração e o desejo têm os seus próprios ritmos, as suas in-termitências. A intenção era libertária não confundir com an-arquia,o resultado mostrou-se publicitário: tem menos liberdade a libido que o nosso apetite pelas compras sem limite, a nossa capacidade de fazer mão baixa sem restrições sobre todos os bens. Bela imagem do revolucionário transformado em prospector preferido do kapital, no que se tornaram por fim o movimento operário, o marxismo e a esquerda radical, capazes de criticar uma falha do Sistema e de permitir a este reformar-se sem custos de maior. Seja o que for que se pense, é muito divertido,pois que, como na moda, adopta-se apaixonadamente o que nos é proposto como se tivesse sido escolha nossa. Já sabemos: não se refuta um prazer com anátemas, absorve-se, suplanta-se com um maior. O consumismo repugna-vos como vos repugnam esses bezerros que pisam o chão dos supermercados e dos grandes armazéns ? Inventai outras alegrias, criai novas tentações! Mas, por favor, deixai-vos de lamúrias!